Os D’Repente surgiram em 2016, de forma tímida, para dar resposta a uma atuação numa unidade hoteleira para uma suposta “noite tradicional”. Feito o convite a um, a que outro se juntou, falou-se a mais duas pessoas para completarem o “elenco”. Nessa altura, já houve a preocupação de representar os cordofones tradicionais madeirenses perante uma audiência que se adivinhava completamente estrangeira. João Caldeira, Tânia Trindade, Renato Spínola, Ricardo Correia, eram os músicos. Cada um de diferentes contextos, com formações diferentes, começaram por apresentar uma noite recheada de bailinhos, mouriscas, charambas e ligeiros improvisos que, mais tarde, viriam a tornar-se na principal característica e elemento diferenciador desta nova composição.
Passada a primeira atuação, e dado o sucesso e grande aceitação, este grupo assumiu uma identidade próxima do improviso, do desafio, da desgarrada. Com o nome D’Repente entenda-se a ação de se apresentar em público de forma descontraída, natural, autêntica, genuína e principalmente por improviso instrumental e vocal. A moda pegou, e o grupo foi recebendo mais convites para apresentações em eventos populares, públicos ou privados. A facilidade na transmissão de uma mensagem de alegria, prazer, entretenimento e um à vontade com novos elementos fez com que os D’Repente fossem ganhando palco no panorama regional. A vertente digital também foi importante e, na altura, o grupo começava a mostrar grande afluência de internautas nas redes sociais que gostavam e apoiavam a música do grupo.
Com o passar do tempo, os bailinhos já não eram suficientes, as mouriscas tornaram-se “aborrecidas” e os charambas já não satisfaziam tanto os gostos pessoais como as exigências dos poucos fãs que começavam a acompanhar o grupo. Eis que surgiu a ideia de começar a tocar “covers”, tanto em português como em inglês. Músicas do panorama internacional, que fossem do conhecimento geral. E mesmo quando estes covers começavam a destoar da ideia inicial do grupo que era a música tradicional madeirense, eis que, passados alguns meses desde a sua formação, o grupo teve a audácia de apresentar e assumir em palco o que poucos até então tinham feito: a mistura de covers com géneros tradicionais.
“Maxallica”, “Bright Charamba”, “Get lucky” em bailinho, foram alguns temas que surgiram do casamento entre música ou letra já existentes e os géneros tradicionais madeirenses. Até hoje alguns destes temas sobreviveram, outros nem tanto, mas todos fizeram parte do caminho percorrido pelo grupo até então, em meados de 2018.
Falando de instrumentos, os D’Repente representavam e ainda hoje representam os cordofones tradicionais madeirenses, desde o mais agudo e pequeno, até ao mais grave. O Braguinha, que muitas vezes costuma ser apresentado a solo, tanto na alta roda social como nos meios mais populares, pode ser explorado melódica como harmonicamente. Conhecido pelos seus agudos bem definidos e sonoros, o chamado de “ponteado”, é um instrumento que, apesar de pequeno, desempenha perfeitamente um papel solístico como também de contra-canto, no seio do grupo. O rajão, sendo um excelente acompanhador harmónico, apresenta sonoridades quentes que encaixam bem na ligação harmónica do grupo. É como se fosse uma espécie de “molho” que faz a ponte entre os ingredientes. Por vezes, também, alterna os solos com o braguinha. A Viola de Arame é provida de uma rica sonoridade e com um espectro sonoro bastante cheio de harmónicos, esta viola é como se fosse a “massa-base” desta formação. Em rasgado, dedilhado ou palhetado, a sua execução tem um papel fundamental no movimento de cada música. Pelo seu tocar, os temas do grupo têm um andamento mais definido, com uma base harmónica muito interessante, com um estilo único de execução.
A formação poderia consumar-se com apenas os três cordofones, por excelência, tradicionais da nossa região. Contudo, na maioria das composições instrumentais, existe sempre o espaço e a necessidade de ocupar o espectro mais grave com um instrumento próprio. Foi aqui que surgiu a ideia e oportunidade de usar um instrumento pouco conhecido do nosso panorama tradicional, mas que carrega na sua história, séculos de gerações de emigrantes, o ukulele baixo. Segundo os entendidos, o ukulele foi o instrumento resultante da emigração madeirense para o Hawai e agora, a sua utilização enquanto instrumento mais grave do grupo não podia fazer mais sentido. A sua forma indicia claramente uma linguagem visual bastante próxima dos nossos cordofones, e a sua sonoridade não nos dá a entender nenhum elemento alheio à tradição musical madeirense.
Este grupo de instrumentos compôs a génese dos D’Repente até meados do início da situação pandémica, em 2020. Durante este ano e também em 2021, o grupo sofreu algumas transformações ideológicas, conceptuais e inclusive no seu elenco. Primeiramente, o grupo cresceu, passando a contar com um elemento dedicado a agenciamento, produção e também uma espécie de primeiro crítico, uma voz de consciência que muito iria ajudar este grupo nos tempos seguintes. Este papel passou a ser desempenhado pelo João Borges até aos dias de hoje. Posteriormente, os D’Repente acolheram o Lino Gonçalves (no braguinha em voz) em detrimento da saída da Tânia Trindade. Por último, e já em 2021, o conceito alterou-se ligeiramente e os D’Repente começaram a experimentar algumas percussões. Em tempo de pandemia profunda, e sempre em estúdio, essas experiências resultaram no convite e integração do baterista Pedro Tem-tem, passando esta composição a ter 5 músicos: braguinha, rajão, viola de arame, ukulele baixo e bateria/percussões. Deste então esta formação não mais se alterou.
Com estas mudanças, houve coragem para “maiores voos” musicais, os quais vieram trazer novos temas originais. Em 2022, praticamente metade do alinhamento deste grupo é de material completamente original e até o denominado “hino” do grupo é completamente original e feito de propósito para os D’Repente, o “Bailinho D’Repente”.
O alinhamento habitual contempla géneros tão díspares como Funk e Bailinho, Morna e Country, Samba e Hip-Hop ou até Blues e Rock. Por todos estes géneros estão distribuídas as canções; sejam elas originais ou temas tradicionais madeirenses, hoje em dia, dizer “D’Repente” é sinónimo de celebração da World Music na Região Autónoma da Madeira.
No Outono de 2021 os D’Repente realizaram um concerto de aniversário no Fórum Machico para assinalar os seus 5 anos de existência. Este evento foi um pico de realização artística do grupo: houve espaço para apresentar temas originais, bem como alguns temas provenientes da sua génese. Também houve espaço para a participação de alguns convidados da comunidade artística regional, provando, mais uma vez, a versatilidade deste grupo, a capacidade de improviso e adaptação a qualquer palco e do orgulho que é poder levar a tradição madeirense no sangue, com os frutos da nossa terra: os cordofones tradicionais madeirenses.
Direção Regional da Cultura
Rua dos Ferreiros, 165. 9004-520 – Funchal
Telf.: (+351) 291 145 330
Festival Raízes do Atlântico 2018
Festival Raízes do Atlântico 2019
Festival Raízes do Atântico 2022
Edições anteriores do Festival Raízes do Atlântico
Links Úteis:
Governo Regional da Madeira Secretaria Regional do Turismo e Cultura Madeira Cultura - Agenda Cultural Direção Regional da Cultura (DRC) Museus da Madeira - Plataforma Online Comemorações dos 600 anos do Descobrimento da Madeira (1419) e do Porto Santo (1418)